domingo, abril 20, 2014

Em 2007, John Maloof um jovem agente imobiliário de Chicago comprou num leilão do bairro onde morava, várias peças descartáveis e miscelânias em caixas com a intenção de conhecer melhor a sua vizinhança. Desapontado por não ter adquirido nada de útil ao seu projeto, Maloof  acabou por tropeçar numa das maiores descobertas fotográficas do  século XX: o arquivo de Vivian Maier. O arquivo encontrado por Maloof reunia milhares de fotos de rua, centenas de recortes de jornais, filmes, e muitos negativos não revelados.  Intrigado por sua descoberta, John Maloof tratou de conhecer melhor o conteúdo das caixas. Começou então a organizar o acervo que continha mais de 100 mil imagens, revelou centenas de filmes em formato 35mm e 120mm, e ampliou dezenas de fotografias. As imagens que vieram  surpreenderam o jovem agente imobiliário por tanta qualidade, dignas dos  mestres da fotografia.  Maloof percebendo que tinha nas mãos um rico material  começou então a investigar a vida de  Vivan Maier, quem era, o que fazia, suas origens, em fim, pistas sobre a biografia da fotógrafa desconhecida até então. Descobriu que tratava-se de uma americana nascida em Nova York , em 1926,  e que tinha sido babá de crianças. Muito pouco se sabia sobre os detalhes da vida de Maier. John Maloof, tratou de procurar especialistas em museus e galerias, e depois de algum tempo, conseguiu organizar uma exposição de fotos de Vivan Maier, e assim achamou a atenção da mídia de Chicago, e atraiu milhares de visitantes para ver as fotos da desconhecida babá.  A seguir,  John Maloof arrumou grana e começou a produzir um documentário,  chamado  “Finding Vivian Maier”, o qual teve estréia este mês aqui nos Estados Unidos. Vi esta semana o filme, o qual mostra depoimentos de (ex) crianças, hoje adultos,  falando sobre a vida daquela misteriosa  mulher que colecionava milhares de recortes de jornais com manchetes sobre crimes e assassinatos passionais,  algumas cartas escritas em francês, e outras bugigangas. Vivian Maier era estranha, foi autodidata, filha de imigrantes franceses, morou com a familia em uma pequena vila no interior da França, falava com sotaque, e assim confundia o as pessoas ao seu redor,  não gostava de revelar seu nome real, mantinha uma vida restrita, muito  reservada,  tratava as crianças que cuidava com muita energia, as vezes com rigidez.  Entretanto, segundo o depoimento do fotógrafo Joel Mayerowitz, a distância com que Vivian tratava a todos era a distância que mantinha dos personagens fotografados por ela, ainda assim ela conseguiu captar com genialidade o perfil de cada um,  o drama existencial de seus personagens. Vivian viajou pelo mundo, foi ao Brasil, e fez milhares de retratos tendo inclusive expressado suas preocupações e proximidade com as desigualdades sociais. Vivian Maier morreu em 21 de abril de 2009,pobre e solitária,  atualmente é colocada no mesmo patamar dos maiores nomes da fotografia do século XX, ao lado de Dianne Arbus,  Henry Cartier-Bresson,  Irvin Penn, Walker Evans,  Man Ray, e outros. Hoje, sua obra é reconhecida em todos os grande museus dos Estados Unidos e Europa, e suas fotos passaram a ter valor inestimável. O documentário “Finding Vivian Maier” de John Maloof, o agente imobiliário que virou cineasta  foi um dos filmes selecionados no festival Sundance de 2013.  Vale a pena descobrir a obra de Vivian Maier, e do próprio John Maloof que revelou ao mundo um dos maiores nomes da fotografia do século XX.