terça-feira, outubro 16, 2012

Escrevi esta crônica em 2002, em  Santa Cruz, Califórnia. A convite do jornal Correio do Sul,  escrevia semanalmente um texto sobre a vida na Califórnia.  Este texto relata meu encontro com Jeanne Houston, autora de "Farewell to Manzanar".

“Farewell to Manzanar"

Como era a vida dentro dos campos de concentração nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial?  “The Enemy Alien Files – Hidden Stories of World War II” é o título da mostra que está em exposição na Biblioteca Pública de Santa Cruz, reunindo fotos e depoimentos de imigrantes japoneses, italianos e alemães que estiveram presos nos campos de concentração, nos Estados Unidos.  No dia 7 de dezembro de 1941, os japoneses atacaram de surpresa a base naval americana em Pearl Harbour, no Hawai. Um ano depois, o presidente Roosevelt autorizou o Departamento de Guerra a definir áreas no oeste do país e confinar ali imigrantes “potencialmente perigosos” aos interesses dos americanos. Ao todo foram criados oito campos de concentração, que serviram como prisões junto as bases militares e instalações do serviço de imigração.  Nesta época, imigrantes considerados perigosos eram proibidos de viajar dentro dos USA mais de cinco milhas desde  suas residências,  somente tinham autorização para sair de casa entre 8 da manhã e 6 horas da tarde e não podiam visitar amigos e parentes sem permissão oficial. O imigrante que tivesse seu nome incluído na “Lista Negra”, era enviado a estas prisões.  No final da guerra, mais de 31 mil pessoas haviam sido “isoladas”, a maioria eram imigrantes japoneses ou filhos de japoneses com cidadania americana. Em 1988, o Congresso Americano apresentou desculpas oficiais aos japoneses com cidadania americana pela violação  de seus direitos durante a guerra contra o Japão.

Jeanne Wakatsuki Houston tinha 7 anos de idade, em1942 quando sua família foi enviada para viver no campo de concentração em Manzanar, no deserto da Califórnia. Esta semana, Jeanne Houston me recebeu em sua residência, em Santa Cruz, e recordou sua infância nos campos de concentração.  Casada com o escritor e romancista James D. Houston, escreveu com ele o livro “ Farewell to Manzanar”, o qual virou filme para a rede de televisão NBC, na década de 70. De lá pra cá o filme ganhou fama e muitos prêmios. Segundo Jeanne, os  campos de concentração americanos eram diferentes dos campos nazistas. “ Enquanto na Áustria os judeus perderam a vida, em Manzanar perdemos a liberdade”. Em seu livro “Farewell to Manzanar” Jeanne conta sem ressentimentos a  história de sua família lutando para sobreviver  com dignidade ao isolamento da prisão.  É a narrativa humana e comovente de uma menina que aos 7 anos de idade descobre como viver e crescer dentro da prisão. “Criamos um ambiente de fraternidade dentro de Manzanar, onde diariamente eu  freqüentava a escola da prisão. Tive a oportunidade de aprender a dançar, enquanto meu irmão Woody tocava saxofone”. Jeanne recordou ainda que ao chegar  a prisão perguntou a sua mãe qual o crime que havia cometido: “Seu crime é ser filha de japoneses”, explicou-lhe a mãe.  Jeanne nasceu na Califórnia, estudou jornalismo em San José, e sociologia na Sourbone, em Paris, e nos últimos anos têm se dedicado a produção do festival de cinema Pacific Rim Film Festival, realizado anualmente em Santa Cruz. Jeanne Houston está finalizando seu novo romance “Fire Horse Woman”, que será publicado em 2003.  Quando estive com Jeanne,  produzi fotos suas para serem utilizadas na capa deste livro. No final do nosso encontro presentei a  autora de “Farewel to Manzanar”  com uma fotografia de paisagem clicada nos campos de Bagé.  Ao ver a imagem de uma árvore com os galhos secos, Jeanne comentou: “ Esta árvore é a imagem de minha família lutando  para sobreviver no deserto de Manzanar”

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